Abril 27, 2011

Travando uma conversa com a consciência

Posted in dreams às 2:30 pm por Ana Lívia

Já havia escurecido.
Entrou em casa, deixou as chaves sobre a mesa e a bolsa no sofá. Ali, também se acomodou.
Olhou ao redor, e um silêncio gritante tomava conta do lugar. Se prestasse atenção, podia-se ouvir apenas, bem de longe, um jazz vindo do apartamento vizinho. E foi nele que Lily se embalou e fechou os olhos, deixando se levar pela suave melodia.
E assim, travou uma conversa com sua consciência; aquela que sempre a aconselhava, mas que nem sempre era obedecida.

– Acho que hoje não é meu dia.

– Que aconteceu?

– Ah, tudo é muito inconstante. Não se pode esperar algo de nada e nem de ninguém.

– Mas isso você já deveria ter aprendido há tempos.

– Eu sei, mas a gente sempre espera, você sabe. Uma demonstração, uma palavra… isso tudo é tão gratuito, e fácil! Eu não entendo como pode ser uma dificuldade pra certas pessoas.

– Com certeza é sim, mas você esquece que as pessoas são diferentes. Cada um age de um jeito, tem sua personalidade e sua história. Cada ser é único e livre pra ser como deseja.

– Claro, não discordo. Só acho que quando se nota alguma oportunidade de melhoria, seja por você ou pelos outros, a tentativa é válida. Isso é crescimento, aprendizado.

– Isso é uma verdade.

– Será que é porque sou muito intensa? ‘Quero demais, desejo demais’ [citando Florbela Espanca]? E quando não tenho algum retorno, consequentemente, isso me torna insegura?

– Olha, escuta o que vou te falar e guarda, bem aí nesse lugar onde se deve guardar as coisas mais importantes. Quando uma pessoa é muito segura de si porque alguém a fez assim, ela acaba não dando importância para o que realmente importa ou para as pessoas que merecem, porque aquilo já basta. O ego fala mais alto. Talvez não seja proposital e nem algo de má intenção. Foi simplesmente porque ela foi imposta naquela situação e se acomodou.

– Até a hora que uma outra se impõe e muda o rumo da história.

– Exato.

– Porque uma hora isso tudo cansa.

– Cansa. Mas o ser humano precisa aprender a ser mais humano. Isso é um dom.

– Então eu ainda precisa aprender muito, não estou em um estágio tão avançado assim. Preciso entender e aceitar, e isso não é uma tarefa das mais fáceis. O ser humano é cheio de defeitos e manias, das quais não se desfaz facilmente.

Abriu os olhos, e por um momento ficou pensativa.
Viu que muitas vezes cansa, sim. Algumas coisas são complexas demais.
Mas sabia que não iria desistir, porque dentro dela havia uma força muito grande, aquela que sempre a moveu até hoje. E também porque desistir seria muito fácil, e coisas fáceis perdem logo o interesse.

Lily was dancing on the table that day.

Janeiro 24, 2011

Inconveniências

Posted in dreams às 7:17 pm por Ana Lívia

O despertador tocou, insistentemente, duas vezes. Mas quando realmente conseguiu acordar, viu que já estava em cima da hora.
Mas, qual a novidade? Isso acontecia há mais de uma semana. Algumas mudanças ocorreram na vida de Lily, as quais ainda não havia se acostumado.
Sentou na cama, olhou para a janela e, pela fresta pela qual saía uma pequena faixa de luz, podia ver que o dia já estava claro. Desceu as escadas ainda de camisola. Colocou a água na cafeteira e debruçou-se na bancada para esperar. E assim, uma vontade incontrolável de chorar tomou conta do seu corpo.
Na noite passada as coisas pareciam ter saído dos eixos. O que era muito bom, agora se tornara apenas bom. Toda aquela admiração, passou a ser apenas um jeito comum de olhar alguém. A vontade de estar junto agora era apenas o de mais uma companhia.
Ela já estava cansada de ser sozinha. Era sempre cozinhar para si mesma, planejar uma viagem fantástica sem companhia, beber um vinho e não receber elogios, não poder se confortar em um abraço aconchegante, cheio de segurança e sentimento.
Lily tinha quase certeza de que dessa vez havia achado essas particularidades em alguém, mas, como sempre, desconfiava que seus sentimentos lhe traíam mais uma vez.
As lágrimas insistam em rolar pelo seu rosto, sem hora para acabar.
Depois  de escutar que precisava fazer suas escolhas porque, se houvesse sofrimento seria apenas da sua parte e não da dele, todo o encanto pareceu adormecer dentro daquele coração remendado, que estava ali mais uma vez, mas que a cada tentativa se fechava um pouco mais. E isso doía. Doía porque a crença que ela persistia em ter nas pessoas estava acabando. E acabando também com ela mesma.
O cheiro do café já tomava conta da casa.
Enxugou as lágrimas, fechou os olhos por alguns instantes e respirou fundo.
“Engole esse choro, você não precisa disso” – falava pra si mesma. E assim deixou a cozinha, as lembranças, o choro e todo aquele desespero para quando o sol chegasse, e fizesse iluminar um novo dia. E quando a noite fosse se aproximando, aquilo fosse apagado com o escuro, assim como se fecha lentamente uma caixa de jóias. Só que aquelas jóias, na verdade, acabariam se tornando simples bijuterias.

Dezembro 15, 2010

*

Posted in dreams às 4:16 pm por Ana Lívia

Carrego uma gaiola dentro de mim. Dentro da gaiola, o pássaro assustado.

De quando em quando, acordo de madrugada num pulo. É o pássaro chorando. Se sente sozinho. Sua tristeza me percorre, esfria o sangue, amolece as panturrilhas. Mas às vezes o meu susto é pelo seu trinado alegre. Geralmente me acorda nas manhãs de sol em que durmo até mais tarde.

O nome do pássaro é Algodão-doce.

Algodão-doce canta junto com a flauta na música, silencia ao som do violoncelo, dá cambalhotas com o xilofone e assobia os violinos.

Ele também carrega uma gaiola dentro de si, uma prisão, seu luto pessoal.

O seu luto é inverso – há liberdade demais entre minhas costelas.

Daqui: http://queridopoeta.wordpress.com/

Setembro 22, 2010

Gente clara

Posted in dreams às 7:43 pm por Ana Lívia

Sou bem mais feliz em dias ensolarados.
Eu quero claridade, entende?
Gente clara, transparente. Que pisa na bola, mas entende, volta atrás, se assume.

Setembro 13, 2010

2.7

Posted in dreams às 12:23 pm por Ana Lívia

It’s coming! \o/

Setembro 3, 2010

*

Posted in dreams às 2:36 pm por Ana Lívia

Feriado vai ser praticamente assim…

NOT!

 

 Cachorro folgado daqui: http://www.weheartit.com

Agosto 31, 2010

*

Posted in dreams às 7:41 pm por Ana Lívia

Sobre as estrelas

Deitada na grama, o céu empoeirado de estrelas. Passei o dedo e – curioso – algumas vieram grudadas na ponta. Olhei para cima e assoprei. Foi tanta estrela caindo que agora eu mal consigo enxergar de tanta esperança.

(Rita Apoena)

http://weheartit.com

Agosto 30, 2010

*

Posted in dreams às 1:55 pm por Ana Lívia

http://www.postsecret.com

Agosto 24, 2010

Striped family

Posted in dreams às 7:48 pm por Ana Lívia

http://www.uhull.com.br/wp-content/uploads/2010/08/08062204_blog.uncovering.org_fotografia.jpg

O Pequeno Príncipe

Posted in dreams às 12:06 pm por Ana Lívia

“E foi então que apareceu a raposa:
– Bom dia, disse a raposa.
– Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
– Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira…
– Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita…
– Sou uma raposa, disse a raposa.
– Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste…
– Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
– Ah! desculpa, disse o principezinho. 

Após uma reflexão, acrescentou: 

– Que quer dizer ‘cativar’?
– Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
– Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer ‘cativar’?
– Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas ?
– Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer ‘cativar’?
– É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa ‘criar laços…’
– Criar laços?
– Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda pra mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…
– Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…
– É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra… 

[ … ] 

– Por favor… cativa-me! disse ela.
– Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
– A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Comprar tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
– Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
– É preciso ser paciente, respondeu a raposa… 

[ … ] 

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
– Ah! Eu vou chorar.
– A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
– Quis, disse a raposa.
– Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
– Vou, disse a raposa.
– Então, não sais lucrando nada!
– Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
– Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas: 

[ … ] 

E voltou, então, à raposa:
– Adeus, disse ele…
– Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
– O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
– Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
– Foi o tempo que perdi com a minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
– Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa…
– Eu sou responsável pela minha rosa… repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.”

(O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry)

* * * * * * * * * * * * * * * * * * 

Essa é a passagem do livro que, na minha opinião, vale pela obra toda. É linda, cheia de simbolismos e mensagens, sempre nos mostrando e ensinando algo.
Não canso de ler.
A cada leitura, encontro forças que pensei que havia perdido.
 


“Só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível aos olhos”.

 

Imagem: http://pontocardealsul.blogspot.com/2009/10/so-se-ve-bem-com-o-coracao.html

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